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Entrevista de JD à revista Pipoca Moderna

domingo, 2 de agosto de 2009

Johnny Depp era fã de Dillinger desde criancinha


O que o levou a interpretar alguém que é sinônimo da violência do passado americano?

Johnny Depp: Bem, em primeiro lugar, quando eu tinha 9 ou 10 anos era completamente fascinado por John Dillinger. Não sei porquê. E provavelmente não era uma fascinação saudável para uma criança. Mas acho que era pela piscadela de canto de olho. Havia algo sapeca em relação a ele. Ele era chamado de “inimigo público”, mas quando você pensa realmente sobre isso, Dillinger nunca foi um inimigo do público. Eu achei isso intrigante no papel.


O que há em personagens históricos como Dillinger que continuam a atrair as pessoas?

Johnny Depp: Com relação a Dillinger, o mundo de 1933 não é muito diferente da situação que vivemos agora. Os bancos eram os inimigos e estavam tirando as poupanças de todos. Para mim, o que fascina é ver um cara dizer: “Eu não vou agüentar mais isso. Não me importa quem vocês sejam, eu vou dar o troco”.


Qual foi sua pesquisa para viver o papel?Viu velhos filmes sobre Dillinger?

Johnny Depp: Tenho uma memória forte de Warren Oates como John Dillinger no filme de John Milius. Mas senti que era uma palheta limitada e havia mais cores disponíveis para pintar o retrato de Dillinger. Desde aquele filme ["Dillinger", 1973], outras informações surgiram e acrescentaram novas dimensões ao personagem. Eu tentei acrescer isso.


Como foi seu relacionamento com Stephen Graham [que interpreta Baby Face Nelson] nas filmagens?

Johnny Depp: Eu o acho magnífico. Ele é um dos meus atores favoritos de todos os tempos. O que ele fez em “This Is England” (2006) me destruiu. Sua interpretação no filme de Shane Meadows me deixou de joelhos. Stephen Graham é alguém que eu vou tentar incluir em todos os filmes que eu fizer daqui para frente. De arma em punho, se for necessário.
Você mencionou que não viu o filme antes da pré-estréia. Você não gosta de se ver no cinema?Johnny Depp: Se eu posso evitar o espelho quando escovo os dentes de manhã, eu evito. Eu me sinto seguro na minha ignorância. É ótimo estar informado e analisar as coisas, mas os julgamentos podem te derrubar. Eu não gosto de me ver nos filmes que faço porque não gosto de ter consciência do produto final. Eu prefiro o processo. Adoro. A ignorância forçada me permite dizer que o resultado final não é minha culpa. Eu estava lá, mas não fiz aquilo.


Mas a fama o acompanha onde você estiver. Você imaginava que um dia chegaria a sua hora de brilhar?

Johnny Depp: Bem, eu passei 20 anos pelo que a indústria define como fracassos. Por duas décadas eu fui considerado veneno nas bilheterias. Não mudei nada em relação ao meu processo. Não mudei uma coisinha sequer. Mas então aquele pequeno filme chamado “Piratas do Caribe” surgiu e eu pensei: “É, isso pode ser divertido. Seria bacana viver um pirata para meus filhos”. Mas eu criei o personagem do mesmo jeito que eu criei todos os demais e quase fui demitido das filmagens. Graças a Deus não me demitiram, porque o filme mudou minha vida. Eu sou muito agradecido por essa reviravolta radical. Mas não foi algo que eu planejei, desviando do meu caminho.


Você interpretou vários personagens biográficos, como Donnie Brasco e Hunter S. Thompson. Quem mais gostaria de interpretar?

Johnny Depp: A atriz Carol Channing [risos]. De verdade. Adoraria. Nessa era digital, eu poderia muito bem viver uma menina de 12 anos.


Mas é mais difícil viver alguém real, como John Dillinger, que um personagem inventado como o Capitão Jack Sparrow?

Johnny Depp: Muito mais, porque você tem uma dívida de responsabilidade com a pessoa quer realmente existiu. Um senso de dever a seu legado. Em relação a John Dillinger, existe uma enorme quantidade de informação sobre o sujeito. Sabemos onde ele estava às 12h02 quando os bancos foram roubados. Há filmagens, fotografias, muitas e muitas fotografias. Mas não há áudio, nada. Nem quem realmente pudesse dizer que o conheceu de verdade e como ele era de fato. Tudo o que temos é a atitude dele. Como descobrir mais sobre este homem? Como ele fala? O que o motiva?O que me ajudou na conexão foi descobrir que ele nasceu e cresceu em Indiana, a duas horas de distância de onde eu nasci e cresci. Foi nesse ponto em que eu pensei: “Ah, eu consigo ouvir sua voz agora!” Eu sei que como ele soa, porque não somos tão diferentes. Ele foi o meu avô, que dirigia um ônibus durante o dia e traficava bebidas à noite, durante a Proibição da Lei Seca, ele foi o meu padrasto que passou um tempo numa penitenciária. Fiz essa identificação.


Vendo o extraordinário repertório de personagens que você interpretou até agora, qual você dirigia que foi o mais parecido e o mais diferente de você mesmo?

Johnny Depp: Bem, o mais diferente com certeza é Willy Wonka [de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”]. Torço para que seja mesmo. E há três que sinto mais próximos de mim: “Edward Mãos de Tesoura”, Rochester em “O Libertino” e John Dillinger.


Como foi para você filmar nas locações em que Dillinger esteve de verdade?

Johnny Depp: Foi uma das coisas mais incríveis que Michael Mann nos presenteou. Ser capaz de entrar pela mesma porta que John Dillinger abriu, em vez de apenas filmar num estúdio, foi um verdadeiro presente. Michael é um perfeccionista e eu o agradeço por isso. E poder disparar minha metralhadora Thompson da mesma janela que Dillinger disparou… uma coisa dessas não tem preço!


Sua atuação ganhou com isso?

Johnny Depp: Claro. Poder, literalmente, caminhar na calçada que ele caminhou, em frente ao cinema Biograph Theater, e cair exatamente, milimetricamente, onde Dillinger caiu foi surreal. Não quero parecer ridículo, mas senti sua presença e um certo grau de aprovação do sujeito.


Como foi contracenar com Christian Bale?

Johnny Depp: Eu gostei. Nós só temos uma cena juntos, além da tocaia que ele e seus homens armam do lado de fora do Biograph. Mas a cena na prisão foi bem divertida. Foram dois caras com grande respeito um pelo outro, tentando mostrar visões diferentes um para o outro. Obviamente, ele é um ator muito talentoso. Mas falamos mais sobre nossos filhos e como é ser pai do que qualquer outra coisa, durante o tempo em que convivemos nas filmagens.


Foi difícil ver John Dillinger morrer? De quais personagens você teve mais dificuldade para se despedir?

Johnny Depp: Bem, tiveram alguns. Mas o engraçado é que você não se despede realmente. Eles ficam numa gaveta aqui dentro [ele aponta para a cabeça], que você sempre pode acessar. Estão sempre ao redor. Não digo que isso seja saudável. Mas eles estão lá. Me despedir de Dillinger foi duro, porque foi como dizer adeus a um parente. Mas o mais difícil? Edward Mãos de Tesoura… esse foi difícil! Lord Rochester [em “O Libertino”] também. Eu me sinto como se tivesse vivido intensamente 40 e poucos dias como esses caras. Sinto como se fosse uma maratona e ao final as luzes apagam e tudo fica escuro.

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